A Criciúma avaliada no ontem e no hoje

A Criciúma avaliada no ontem e no hoje



E dizer que nosso estremecido município principiou com o nome de Cresciúma. O nome originário que veio da plantinha histórica parece que levou á sério o título Cresc-ci-ú-ma, afinal, não veio logo crescida a terra do carvão não só em mais uma faceta, mas nas tantas dimensões graças ao súbito assalto do progresso que de uma hora para outra, levou a então já Criciúma tomar o seu lugar ao sol.

E, se é que a nossa lembrança paira principalmente nos idos de 1945, por que não dissertá-la? Era então a Criciúma adolescente! Tudo precário, mas já prenunciando a aurora dos novos tempos... No que dizia respeito á religião, sempre a fidelidade dos criciumenses fora voltada para a fé católica. Na Igreja São José, os fiéis mantinham assídua presença, praticando desde os primórdios a mais bela filosofia social de Cristo, ou seja: O ASCENDRADO AMOR AO PRÓXIMO.

No espaço social, as tertúlias Mampituba já permitiam o ponto de encontro dos enamorados. Saraus marcavam as datas a principiar com o tradicional Baile da Primavera que oferecia o trono ás carvoeirinhas chiques chegando no capricho dos modelos. Afora o Mampituba, nos idos de outrora, outras entidades sociais logo chegavam com os rapazes na presidência agendando os bons eventos semanais. No dezembro, acontecia com muita agitação, a Festa de Santa Bárbara, a padroeira dos mineiros que entusiasmava as senhoras para o prazeroso atendimento das barracas. Enquanto tudo isso corria, era o CARVÃO o rei do pedaço. Mas, não esqueçamos ainda o acanhado da época. A Rua Henrique Lage, por exemplo, que face ao piso do chão batido levantava a poeira intensa, que até levou o escritor sobre ela escrever:
- “As trevas do meio-dia”

E os sepultamentos? Dizer que eram acompanhados á pé. Também a falta de luz tantas vezes permitia a Praça Nereu Ramos ficar completamente ás escuras, o que motivava aquela chegada do pessoal carregando as lanternas. Digamos, era para a juventude até divertido...

O Cine Rovaris, acanhadinho mas sempre lotado, por sinal, fora o ponto alto dos encontros! Quanto ao quesito moda, já como acima nos referirmos, haviam os belos vestidos vindos nas rendas, cetins e babados, apenas o ponto negativo era a ausência das meias de seda a vestir as pernas bonitas das moças que apesar de capricharem tanto nos modelos, esqueciam de apresentá-los muito mais chique com o charme das meias. 

Mas, de resto tudo valia como a chegada do trem, do apito da locomotiva que assanhava na Estação Tereza Cristina a alegria do povo que tinha ali, também, as esperanças de assistir a inesperada chegada dos estranhos. No setor assistencial atencioso a todos os reclamos, lá estava no alto o Hospital São José, pequenino, mas sempre acudindo a todos com a equipe talentosa dos bons médicos, profissionais e religiosas.

Havia o Baú dos Pobres, entidade presidida pelas damas que com satisfação se reuniam semanalmente. O Rotary Clube, o Lions Clube, o Clube da Lady, o Sandu, todos já com atuações sérias, empunham-se vigilantes aos déficits acumulados. Carboníferas constantemente prenunciando ações reformistas, trazendo dentro de ativações adequadas, personalidades ilustres para então definirem até os recursos financeiros, facilitando a administração efetivada pelos tantos cidadãos de pulso que muito estimulavam as minas, que mantinham no bojo a porção dos inúmeros mineiros apropriadamente destinados á extração das dominantes pedras pretas. Indispensável lembrarmos da educação, dos mestres que se dispunham a levantamento das letras, da cultura e da civilização. Ao que bem lembramos, dentro deste quadro valioso, esteve a pioneira Escola Professor Lapagesse.

E a radiofonia? A Rádio Eldorado fora outra pioneira que apenas ao anoitecer já estava ela cuidando de altear os alto-falantes para a maior alegria do povo que devagarinho chegava também nos canteiros da tradicional Nereu Ramos. Mas, os anos corriam... E com eles chegando triunfal a nova cara da Criciúma moderna. Dizemos da Criciúma atual que hoje aí está galante, cortejando as estrelas, através da porção imensa dos edifícios, modernos, extraordinariamente dotados de todos os aparatos disponíveis para a elegância dos lares. Ainda Prefeitos, embora nem sempre bem reconhecidos, cada qual realizou um pedaço, e o que pisamos hoje são nas avenidas asfaltadas, no conforto das luzes bem distribuídas. No Hospital São José dilatado em novos andaimes oferecendo todo o surpreendente conforto da tecnologia atual. A antiga Igreja São José, hoje é a imponente Catedral São José. Clubes recreativos cada qual oferecendo, com otimismo, as mais palacianas festas. Tudo satisfazendo os anseios de uma formação compatível com a velocidade do progresso.

Na verdade, as lideranças criciumenses aí estão comprovadas como no caso, o Bercinho do Amor cortejando os bebês que nascem. A zelosa ATUPAN, Nossa Casa constantemente recebendo as doações vindas dos nobres corações. Projetos e mais projetos do mais alto nível, como exemplo ainda, a extraordinária Unesc que anualmente diploma os candidatos á vida, os postulantes á glória.

Aqui valendo a imponência do Teatro Elias Angeloni que traz anualmente na ribalta os mais famosos astros do cenário nacional. Também não faltando o zelo intelectual, verdadeiramente beletrista chegando com a Academia Criciumense de Letras. A Fundação Cultural de Criciúma que tem disponível diversos espaços até para a educação artística do jovem. É o comércio que se amplia, com peças que podem perfeitamente rivalizar com aquelas exibidas nos maiores centros. Sedes bancárias oferecendo seus préstimos, cada qual elevando o nome credentício de nossa terra!

E as imprensas? Também estão parceiras dos rumos certos mostrando nos inúmeros jornais que o jornalista não deixa de trazer ao lume, os contrastes das mais diversificadas ordens, como as sociais, políticas e as econômicas. Assim, num admirável espaço de tempo e, com a já referida atuação atilada do homem, a Criciúma do novo século chega evitando as rasuras normais do tempo, antes, permitindo tirar maior proveito das forças disponíveis que trazem para a nossa história hoje a Capital do Carvão fortalecida também com o alto mercado cerâmico e afora com a linguagem concomitante aos fatos. Daí seguindo constantemente as novas perspectivas, mesmo que vem erradas em certos detalhes, mas, servindo para uma tomada admirável de consciência em relação ao nosso destino, ao destino abençoado por Deus e emocionalmente cantado num certo soberbo hino que audaciosamente serve muito bem aos destinos de Criciúma, isto é: “Ter em nosso campos muito mais flores, em nossos bosques muito mais amores..." E quem duvida? Em nossas Minas muito mais carvão!


Que viva a Criciúma 2020! A Criciúma do Tigre, dos grandes campeões do futebol. A Criciúma dos 220 mil habitantes, ou seja, a Criciúma do piso negro que tem a abençoá-la os anjos que aos quatro céus sulinos interagindo estão. Criciúma é viável?

Beverly Godoy Costa. Escritora, membro da Academia Criciumense de Letras e colunista

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